Já tive medo da morte, hoje não mais... Consigo entender que as coisas tem seu curso natural e de maneira alguma posso influenciar nisso. Porém concordo com Mario Quintana quando ele diz: "Morrer o que me importa?... O diabo é deixar de viver". Viver é muito bom e não há ninguém, assim como ela que queira ir embora.
Quando ainda criança perguntei ao meu pai se quando ele morresse sentiria saudade, e não precisei de nenhuma resposta verbal, pois as lágrimas dele me serviram de resposta. Desde então sabia que teria que lidar não apenas com a morte, com a perda, mas principalmente com a saudade. Uma saudade infinita, pois não é passageira e não pode ser sanada.
Eu cresci e fui perdendo para a morte. Escutei do meu avô a tristeza de ter que deixar este mundo, não por morrer, mas por ter que deixar seus entes queridos, pois sentiria e deixaria saudades. As partidas eram inevitáis e assim aprendi que morte é sinônimo de uma saudade eterna, uma saudade sem fim. Aprendi que a morte é também onde mora a saudade. A morte nos dá uma passagem apenas de ida... Sem retorno... Sem ao menos saber o que e quem nos espera.
Na minha experiência humana, sei que a vida não se restringe apenas a batidas de coração, ondas cerebrais ou qualquer outra coisa. Sei que para nos manter "vivos" necessitamos de muita esperança e alegria de viver. Sei que precisamos alimentar o espírito, pois o corpo é apenas uma morada provisória, e que sem a alegria de viver, o corpo torna-se apenas uma casca vazia.
As escrituras mencionam que para tudo há seu tempo, assim como para nascer, como tempo para morrer. A morte e a vida andam lado a lado e por vezes estão de mãos dadas. Precisamos estar preparados, entender e permitir que a morte se aconchegue no exato momento em que a vida deseja ir.
Aprendi e entendo que o equilíbrio é a melhor maneira de definir a busca pela perfeição de um espírito que vive dentro de cada um de nós e que como um pássaro precisa apenas ser alimentado, para que se fortaleça e então possa alçar voo para bem longe. Longe desta gaiola que chamamos de corpo e que após o último sopro de vida para mais nada servirá.
Aprendi que os amigos e entes querido partiram para uma outra dimensão, para uma outra forma de vida, mas que a qualquer momento podem estar ao meu lado. Para isso existe a saudade, para trazer para próximo do nosso coração estes que um dia fizeram parte da nossa história, da nossa caminhada e que de alguma maneira construíram a minha identidade.
Compreendo que Mário Quintana tem razão: "Morrer, que me importa?... O diabo é deixar de viver..."
Choro ao lembrar do amigo que hoje ironicamente no dia do amigo faz um ano que partiu.
Choro por não entender e não encontrar explicação para essa separação.
Choro ao lembrar dos momentos que vivemos juntos e as alegrias compartilhadas.
Choro por entender que é para sempre essa ausência.
Choro por saber que esta dor que sinto no peito chama-se SAUDADE do que não tem fim... Pelo menos até que eu possa receber meu ticket de passagem também sem volta.
Então voltarei a sorrir por encontrá-lo no angare a me esperar com aquele sorriso franco e de braços abertos assim como o um dia aconteceu lá na cidade do Cristo Redentor.
Eu sei que ele ainda pode me ouvir... Por isso canto, por isso rezo e por isso relembro, fazendo com que por alguns minutos a saudade deixe de ser um pesar e juntos possamos pelo menos trocar olhares e sorrisos, que por algum tempo haviam sido esquecidos. Mas não esquecidos para sempre.
Portanto o que importa morrer? Se a morte pode chegar mansa, sem dor, cercada de amigos e do lado das pessoas que amamos?
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