terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Antes que as cortinas se fechem"



Abrem-se as cortinas, inica-se um novo espetáculo. Tudo novo para a platéia que anciosa esperava este momento e para o protagonista que também não sabe o que lhe espera. Como numa explosão de sentimentos, as luzes iluminam e mostram todo o cenário, assim como aquele que será o grande "ator" do momento. E enquanto novidade, o espetáculo é assistido, aplaudido e até mesmo a platéia pede bis... E o espetáculo continua.

Algumas pessoas entram, outras saem mesmo antes de o espetáculo terminar. Procuram um lugar na platéia e atentamente assistem a desenvoltura no palco. Numa mistura de emoções, alegrias, tristezas, o "ator" consegue fazer com que o espetáculo siga em frente, pois sabe que não pode parar. E o espetáculo continua. É ali, naquele imenso palco, que o "ator" consegue desviar a atenção da platéia em relação aos problemas. E ali está apenas um grande artista, de força e coragem. Que consegue conduzir a cena, de maneira maestral e invejável. E o espetáculo continua.

No decorrer do espetáculo, aos poucos o enredo vai se desenrolando, desvendando uma história que não pode ser reescrita, pelo menos não naquele momento. É preciso comprender que existe um script e ele precisa ser seguido. E o espetáculo continua. As mudanças são as vezes leves, as vezes bruscas. De uma simples maquiagem, uma máscara de papel ou gesso. Uma roupa ou um adereço. Chegando a uma explosão de gritos, como um misto de sentimento: dor, raiva, tristeza, alegrias e também um profundo silêncio. E o espetáculo continua.

E o espetáculo continua durante anos em cartaz - às vezes não. Mas aquela sensação da estréia se perde durante o tempo, durante o caminho. Os sentimentos de euforia, o grito de ansiedade, vão dando lugar a certeza do que lhe espera, não existem mais tantas surpresas. O "ator" já sabe o que vem depois, por que o depois é sempre o mesmo, tornou-se previsível e porque a história sempre se repete. E o espetáculo continua. Protagonistas da própria história, sem direito a ensaios... Chorar e rir, gritar e silenciar, falar e calar, caminhar ou simplesmente parar. Correr atrás de prejuízos antes que a cortina feche e antes que a peça termine... Sem aplausos... Sem realizações. Não há dor, nem pesar, nem medo, nem insegurança. Não há lamento ao que já ficou na outra página - passado. Por que a vida é um livro que lemos todos os dias. O passado é a página que foi lida, o presente é a pagina atual de leitura e o futuro está nas próximas páginas. Quanto ao final... Esse é uma incógnita. Mas vale saber que ainda existe uma platéia firme que admira e torce pela felicidade... E que se entristece com a tristeza do espetáculo e do "ator". E o espetáculo continua.

A segurança no palco, é traida pelos encontros e desencontros... Vitórias e fracassos. Mas sempre com a certeza de que o show tem que continuar. Ninguém se importa se trocarão os atores, pois o cenário continua o mesmo. Tudo passa... Vem as dores e sofrimentos e como frutos, o crescimento e amadurecimento. E esse talvez seja o "grande momento" do espetáculo. O momento de resgatar o que ficou, o momento de avaliar e se possível fazer sempre melhor, ser o melhor. Antes que o espetáculo termine... Antes que termine para sempre.

As cortinas do espetáculo se fecham... Fecham-se também os olhos do "ator" para o espetáculo da vida. E o espetáculo continua... Resta apenas um corpo inerte diante de uma platéia perpléxa, com aplusos que não mais poderão ser ouvidos. E o espetáculo continua. Pelo menos para os que ficarão na platéia!!





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